segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Remedios

Acho que atualmente posso falar um pouco a respeito de medicamentos. Durante esse ano travei batalhas homéricas com esses tais remédios. Recebi de tudo um pouco, anti-depressivos, ansiolíticos, controladores de humos, anti-psicóticos, e mais uma porrada de outros sossega-leão que não sei bem descrever. No início me revoltava contra esses remédios, propugnando aos quatro cantos minha lucidez. Tomar aqueles remédios me fazia crer que as pessoas acreditavam que eu estava louco. O que tinha uma grande dose de verdade. Mas eu acreditava na minha verdade e me apegava cada vez mais às minhas fantasias. É difícil saber distinguir quando nossas fantasias rompem as teias da realidade. Pelo menos no estado em que me encontrava me parecia impossível ter esse nível de discernimento. Mas eu precisava eleger meus inimigos e nada mais lógico do que eleger os remédios. Quem passa o olho por uma bula daquelas pode ter certeza que não vai querer chegar nem perto deles. Além disso tinham os terríveis efeitos colaterais. Um dia não conseguia por a língua para dentro da boca. Era como se ela tivesse anestesiada e não respondesse aos meus comandos. Parecia que eu falava demais e minha língua estivesse tentando me censurar. Todos me olhavam estupefatos: "Ponha essa língua para dentro da boca! Como assim não consegue?". Pouco tempo depois desse episódio achei que minhas palavras estavam me auto-incriminando. Passei então a estar decidido a não mais abrir minha boca. Não conseguia, ela estava travada. Uma situação extremamente terrível. Quando se quer falar e não se consegue. Depois fui saber que era um efeito colateral, e havia um outro remédio para combater esse efeito. Mais uma vez drogas e mais drogas no sangue. É um absurdo o tanto que me doparam. Talvez por isso eu tenha passado por uma outra fase em que precisei de outros remédios para sair dela. Dessa vez fui tomado por uma depressão, uma imensa vontade de acabar com tudo, me despedir desse mundo cão. Daí novamente me encheram de drogas, dessa vez em doses homeopáticas. Dessa vez o medo era de voltar a fase de surtos. O engraçado é que nunca me perguntavam. Acho que é porque eles já sabiam a resposta. Dessa vez achei que as drogas não funcionavam. Nada mudava e os dias passavam tediosos, eu emimesmado e o mundo vazio de sentido. Fico me perguntando então qual a função dos remédios. Pois na hora de podar minha criatividade e me domar eles faziam muito efeito, mas na hora de me reinspirar e trazer novamente a beleza da vida eles simplesmente pareciam inúteis. Remédios não resolvem os problemas. Eles camuflam e tapam o sol com a peneira. Servem somente para curar os sintomas e não os males. Espero que minhas relações com os remédios sejam mais amenas e que possa dar conta de seguir sem a ajuda deles... São muletas muito pesadas para alguém muito jovem como eu. Espero conseguir andar com minhas próprias pernas.