quarta-feira, 1 de julho de 2009

O retorno das Musas

As Musas existem, no mínimo desde a Grécia Antiga. Talvez existissem desde sempre, desde que o mundo é mundo e que existem o homem e a mulher. Talvez a primeira das musas tenha sido Eva, inspirando Adão a cometer o pecado original. De fato há algo de intrigante com essas musas, fontes de inspiração e da tentação. Na Grécia, eram nove, filhas de Menmosine, deusa da memória, e Zeus. Essas seriam entidades mitológicas com capacidade de inspiração artística e científica. Cada uma tinha função específica de inspirar uma área delimitada. É interessante transpor essa concepção mitológica para o trabalho de criação. Todos que criamos, seja em palavras, harmonias, pinturas ou esculturas estaríamos influenciados por uma musa. Em meus períodos de devaneios, meus insights poéticos, sempre havia uma musa inspiradora. Ás vezes essa se transubstanciava em alguma figura feminina real, mas olhando à distância, é facil perceber que sua existência se dava mais no plano ideal do que no real. Durante certo tempo, as musas fugiram de minha vida, e me deixaram sem inspiração ou criatividade. É aquele sentimento de vazio, impotência, uma passividade-ativa, ou uma atividade-passiva. Talvez uma tradução dessa situação tenha sido feita por Drummond, o imortal, no poema Os ombros suportam o mundo:

"Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus

Tempo de absoluta depuração.

Tempo em que não se diz mais: meu amor

Porque o amor resultou inútil.

E os olhos não choram.

E as mãos tecem apenas o rude trabalho.

E o coração está seco.

(...)

Chegou um tempo em que não adianta morrer.

Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A vida apenas, sem mistificação".



Uma situação congelante, em que até o amor, até ele, parece não importar. Não há mais interesse, paixão, tesão. Tudo se esvai, carece de sentido, e a vida se torna um tédio sem fim. Mas a vida, por mais que alguns neguem enfáticamente, possui alguns ciclos. Chega o dia em que rompe-se a monotonia da eterna repetição e algo novo trás outros contornos. Euterpe, musa da música, Erato, da poesia lírica, e Clio da história, parecem surgir novamente no cenário e trazer uma nova inspiração. E parecem andar de mãos dadas com algumas musas inspiradoras de carne e osso. São os prazeres da alma e do corpo, união de criação e desejo. Seu retorno que começa a se anunciar promete, no mínimo, uma nova fase. Novas idéias, novas criações, novos sentidos. E um mundo de possibilidades pode se abrir a partir dessa brecha. Ou seja, nada mais visceral e transcedental que o ato de criação. E essas vísceras que pareciam terem sido arrancadas de mim. Outras estão crescendo. renovadas, esperançosas. Um grande amigo já me disse, que precisamos da noite, das bebidas e das mulheres para inspiração. No mínimo isso...